Infância de meu pai - parte 2


 Essa passagem de meu pai em São Joaquim é digna de registro. Existem coisas na vida que podem marcar pessoas. Algumas não conseguem superará-las, outras, como meu pai, retiram ensinamentos e força para superar as dificuldades.  Chegando a São Joaquim, provavelmente levado pelo seu pai, Solon encontrou pela primeira vez a família de seu pai Bernardino. Lembra que sua avó paterna, D.Marcolina era uma pessoa bem velhinha, pequenina, com ares de índia. Lá não permaneceu muito tempo, pois pediu para voltar para a família de sua mãe, em Florianópolis.

              Naquela época, década de 1930, os meios de transporte eram os poucos, diante disto meu pai pegou uma carona com um caminhoneiro que estava descendo a serra indo em direção a Florianópolis. Solon lembra que partiu para esta viagem com uma pequena trouxa de roupa e duas rapaduras que teriam que durar toda a viagem que levava em média uns três dias. Chegando em  Florianópolis foi deixado na praça XV e, como os tempos eram outros, logo foi identificado como o neto do Horário de Carvalho e  levado para a casa dos avós. Sempre recordo desta passagem com emoção. Meu pai sozinho, com pouca comida, com a mãe recentemente falecida, deixado com uma família que não tinha nenhuma afinidade. A intercessão divina agiu com toda a sua força para que nada de mal acontecesse com o menino.
Natalina Horn de Carvalho (Macadê) vó de Solon.

               As andanças de Seu Solon não acabaram aí. Como dito anteriormente a vida que levavam em Ponta Grossa era difícil. O estudo que sempre foi muito valorizado pelos Horn e Carvalho era coisa séria. Meu pai com oito anos ainda não sabia ler nem escrever. Meu bisavô, Horácio de Carvalho, resolveu levá-lo para o Internato localizado em Angelina para que pudesse o pequeno aprender as letras. Lá chegando, as freiras só falavam alemão. Mais um desafio para o menino. Meu pai lembrava deste tempo com nostalgia. Realmente aprendeu algumas palavras em alemão, mas a saudade dos irmãos o levou novamente a Florianópolis, para a casa de seus avós maternos. Deste tempo ele recordava com alegria de sua avó Macadê. Pudera, este apelido, Macadê, revelava o espírito da Natalina, pois significava “Mais cadê esta menina? Mais cadê?.”. Macadê. Todo apelido tem um sentido. Natalina era divertida, mas também muito carinhosa. Algo que meu pai sempre me falava sobre a Macadê era sobre as suas brincadeiras. Uma delas consistia em pagar para os  netos  brincarem com seus cabelos.Para cada fio puxado, uma quantia em contos de reis. Outra brincadeira, e esta mais divertida, era jogar objetos no escuro como sapatos e pedir para os netos buscarem nas noites escuras; a correria era grande, ninguém queria ficar longe da luz da pomboca, afinal as casas pareciam ter seus próprios fantasmas. Meu pai puxou este lado. Sempre muito carinhoso. Era um tempo bom. Infelizmente Horácio de Carvalho já estava doente e logo faleceu. Em seguida, a Macadê. Lá teve meu pai com o irmão e irmãs que ir morar com a tia Otília (tia Tilinha). Mais uma mudança. Mais desafios. Com a tia Tilinha e o tio Mário Both meu pai continuou sua jornada. Sempre agradecia com especial afeição a guarida fornecida pelos tias e afirmava que foi criado como filho, tanto ele como seu irmão e suas irmãs. Mesmo com todas as dificuldades meu pai sempre deu valor muito grande à família. Diria que para ele este era o maior bem. Maior do que tudo. 

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